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Baile da Graça
Lux Frágil, Lisboa
16.02.2025
Esta soirée masquée celebra com dois anos de atraso o centenário do infamemente famoso e escandaloso Baile da Graça de 1923.
O Baile da Graça aconteceu a um domingo, dia 11 de Fevereiro de 1923, no salão de uma escola do bairro da Graça, alugado para o efeito. Segundo relatos da época, o contínuo de vigilância à porta, estranhou que só entrassem homens. Foi espreitar e descobriu que os cavalheiros chegavam, tiravam os sobretudos, e, como disse posteriormente em tribunal, “ficaram todos mulheres. De brincos até, senhor juiz! Atados com uma guita à orelha...” e reitera, “braços ao léu, pernas ao léu, peitos ao léu”. Após denúncia na esquadra, a polícia prendeu todos os travestis, e Lisboa pôde depois vê-los no dia seguinte em tribunal, já meio desmascarados. Um de bata de enfermeira, careca e cara rapada, outro com sapatos de tacão alto e saias arregaçadas, um terceiro de capa de senhora com ramagens, o quarto lançava o leque como uma espanhola, pulseira de ouro e gola de cambraia. Ao lado, um rapazito de 15 anos, pequenino, escondia-se atrás de um latagão de saia curta e peito descoberto. Todos foram multados em 160 escudos cada. Um deles teve de pagar 180 escudos por ter trocado o nome.
Este acontecimento, a par com a publicação pela editora Olisipo, de Fernando Pessoa, do provocatório livro Sodoma Divinizada, de Raúl Leal, viria a servir de pretexto para a intervenção pública da Liga de Ação dos Estudantes, fundada por Pedro Teotónio Pereira, com o objetivo expresso (pelo próprio) de "meter na ordem" os travestis presos no baile de carnaval na Graça e "esses equívocos senhores que andam por aí, nas ruas e nos cafés, com maneiras femininas e elegâncias ridiculamente exageradas", juntamente com "os artistas decadentes, os poetas de Sodoma, os editores, autores e vendedores de livros imorais". O livro valeria a Raul Leal a acusação de devasso e herético por parte da Liga e do jornal A Época, que tentaram conotar a obra com o referido baile “escandaloso”, sendo ambos descritos como sintomas da “vergonhosa desmoralização” que, perante a inação da polícia, alastrava na sociedade lisboeta.
*este evento é privado