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Exposição individual com curadoria de Marta Mestre
CIAJG, Guimarães
15.04.2021 - 05.09.2021
Uma memória de infância, um teatro de personagens insólitos, uma ficção sobre a vida e a morte dos objetos.
Quarto Blindado, de Fernão Cruz, é um espaço de infinita criação. Assim como nos mitos de origem, onde os deuses são hábeis escultores, modelando a vida dos seres e das coisas do mundo, o artista (Lisboa, 1995) aborda nesta sala o ato de criar. Inspirado pelos materiais, texturas e cores das esculturas africanas da coleção do museu, e pelas ilustrações de F. D. Bedford para o livro Peter and Wendy (1911), do escritor britânico J. M. Barrie, Fernão Cruz constrói uma instalação composta de diferentes camadas de significado.
As aventuras do rapaz que não queria crescer são o pretexto para a construção de um espaço psicológico e íntimo em que a realidade, suspensa pela arte, vê as suas regras subvertidas. A utilização da pasta de papel - que José de Guimarães emprega em muitas das suas obras - permite, com poucos meios, reproduzir objetos sem função, construir um espaço de sonho e de desejo, frágil e, no entanto, tangível, que o visitante invade e contempla.
Um chapéu de chuva petrificado, uma câmara de vigilância partida, um pássaro, uma cena de família e um braço mágico que parece invadir o mundo real, as esculturas povoam a sala. Realizadas sobre pano cru, e expostas como as páginas de um livro, as gravuras de F. D. Bedford são alteradas por Fernão Cruz. O universo doméstico e a intimidade, o voar sem asas de Peter Pan, os sentimentos de perda, luto e desejo, compõem um lugar de refúgio, uma realidade em que as coisas íntimas se agigantam e os corpos pesados flutuam.