Cristina Guerra Contemporary Art tem o prazer de anunciar uma exposição individual de Rui Toscano, a terceira deste artista na galeria.
Intitulada T de Tornado, a selecção de trabalhos expostos resulta, não numa duplicação, mas numa genealogia em que se desenvolve e reescreve o vocabulário escultórico do artista. É intencionalmente que Rui Toscano submete o léxico do minimalismo às suas experiências, de forma a utilizar alguns dos materiais a que já nos habituou: rádios portáteis (tijolos), antenas e som.
A instalação de vídeo que dá o título à exposição, e que se encontra à entrada da galeria, evoca claramente a memória de uma das esculturas anteriores do artista, um “auto-retrato” de 1998 intitulado T. Nesta peça pioneira, a forma da letra T – a inicial do apelido do artista – resultava do emprego de uma das formas do minimalismo: dois grandes paralelepípedos pretos. Ao fazer com que a escultura tivesse exactamente a sua altura, Toscano parece ter tomado à letra a crítica que Michael Fried faz da arte literal, por outras palavras, da arte minimalista. Esta escultura de Toscano era intencionalmente antropomórfica, oca e ocupava o primeiro plano do espaço onde ela própria e o visitante se encontravam. Para a sua perenidade contribuía um rádio, colocado em cima da parte horizontal da peça, do qual era possível ouvir o artista secamente pronunciar a letra T a intervalos de 14 segundos, lentamente abrindo mão de uma presença, em lugar da “ausência” modernista.
T de Tornado, uma das peças centrais da exposição, exorta à cumplicidade de quem a vê: não só a memória da já referida peça, mas também a capacidade de participar numa relação aberta, indeterminada e inexacta com a projecção. O vídeo apresenta uma intersecção de duas imagens do artista rodando sobre si próprio, uma formando uma linha vertical, a outra uma linha horizontal. As duas imagens formam um T. Nesta peça, o loop encontra-se no centro da estrutura da obra, a permanente repetição da mesma acção que em última análise resulta num sentimento de imobilidade. A peça é pautada por dois ritmos: um de aceleração, em que a imagem do artista se torna cada vez menos nítida, e outro de desaceleração, em que a densa figura se torna progressivamente visível. Desta forma, o trabalho usa um movimento circular sem destino, sem princípio ou fim, sem narrativa, sem resultado aparente ou finalidade. Tal como a sua escultura, este vídeo “ocupa” espaço físico e envolve o espectador na sua interminável circularidade, produzindo um efeito para alguns hipnótico e desconcertante.
A exposição inclui Light Corner, de 2006, uma instalação que consiste em 9 rádios portáteis (tijolos) dispostos em três filas formando um canto, e em que cada rádio reproduz uma cassete com o som de fósforos a serem acesos. Para além deste trabalho, temos também oportunidade de ver Wave Field, de 2007, uma escultura que consiste em várias antenas, construída, como sempre, enquanto tautologia. A pedido do visitante, poderá também ser vista uma selecção de desenhos do artista.