Exposição Coletiva
A Cristina Guerra Contemporary Art tem o prazer de apresentar 'On Drawing', uma exposição de desenhos recentes/novos de cinco artistas portugueses: Diogo Pimentão, José Loureiro, Pedro Calapez, Rui Toscano e Joana Rosa
À medida que o título "Sobre o Desenho" avança, esta mostra oferece múltiplas perspectivas sobre o desenho sem submeter o tema a uma visão unificadora ou globalizante, concebida como ponto de partida ou tema para um potencial debate ou diálogo sobre o desenho.
Para Jacques Derrida, 'Graphematics' informa toda a experiência, o que sugere que o desenho informa toda a 'experiência'.
O início é da ordem do traço, a ordem do desenho. Dado que o desenho é da ordem do início, estes termos são permutáveis. Assim, todos os começos desenham os traços de desenho em jogo. O início como delineamento, vestígio, traço ou busca da origem ou história de algo ou alguém; o desenho como decifrar, descobrir, determinar por investigação; o traço como delineamento, o desenho de um contorno ou figura, a marcação ou marcação sobre ou embelezamento com linhas, figuras ou caracteres. Para Alan Cholodenko em The Illusion of the Beginning: Uma Teoria do Desenho e Animação, "o traço é a diferença que abre a aparência e a significação". Essencialmente, o desenho como conceito é disseminativo e complexo, escapando à permanência e fixação, para desenhar desenha e retira-se a si próprio, tal como a ideia de origem - o traço. Como Heidegger observou 'Diese Zeichnung ist der Riss', riss sendo o rasgo, o intervalo, o entrelaçado, um local de passagem. Desenho como delineamento (desenho, esboço, esboço - dessin em francês) e desenho (plano - dessein).
O desenho como levantamento e comando da natureza, através das ilustrações do meio do homem em grutas, é reconhecido como estando na 'origem' de toda a arte. Estes primeiros desenhos desenvolveram-se nas formas adoptadas na arquitectura, escultura e pintura. Durante a Renascença, o desenho ganhou um papel proeminente como símbolo de criatividade e engenho. A força da linha é o princípio que determina a aplicação da cor na pintura. Leonardo da Vinci viu o desenho como a 'ciência divina', um processo de conhecimento criativo.
Se há algo relativamente consensual a dizer sobre o desenho, pode ser que o desenho seja uma experiência formativa que encerra todos os tipos de manifestações: desenho como processo (referido à arte que traz os traços da sua própria realização ao longo do tempo, privilegiando a presença da mão do artista e a sua natureza experiencial) ou trabalho acabado/preciso (por oposição a ser encontrado através do processo de fazer, desenhos 'projectivos'), obras imediatas, não mediadas e desenhos longos e construídos. No entanto, nenhuma destas categorias pode actualmente ser considerada exclusiva.
No "Desenho" apresenta peças que não são nem um estudo preparatório, nem um pequeno complemento do trabalho acabado, mas sim abordagens variadas ao desenho; propostas elaboradas que reflectem a preocupação dos artistas com o emprego e os problemas do meio. Uma leitura potencial destas obras, na sua maioria latente para cada obra, é a de dérive (como a técnica de passagem rápida através de ambientes variados) ou a atitude de drifting através da arte, do desenho e das suas convenções.
No desenho de Diogo Pimentão (Lisboa, 1973), a mão do artista desliza repetidamente sobre a grande folha de papel, renovando invariavelmente cada marca. Em algumas obras, as linhas que compõem o fino tecido do que é visto emergem do atrito, o resultado de um acontecimento quase performativo. A densidade e opacidade das obras do Pimentão reflectem o resultado de um delicado processo de primer o papel com uma superfície de gesso acrílico cuidadosamente lixada e afinada para acolher os seus desenhos em grafite. Estas obras tornam piscinas vivas de mercúrio que reflectem a luz, obrigando o espectador a aproximar-se e a retirar-se deste espelho escuro. Os seus desenhos definem o espaço de desenho (o espaço que é ocupado pelo desenho), mas também traduzem uma definição de espaço que é distinta do espaço ilusionista definido no desenho tradicional através da utilização de relações figura/terra e outros dispositivos. Embora as obras de Pimentão sejam vistas planas contra a parede, existe uma fisicalidade tácita nos desenhos que define o espaço à sua frente, de modo a sugerir o espaço ocupado durante o seu processo de criação e fruição.
Para José Loureiro (Mangualde, 1961), o desenho é substância. As pinceladas acopladas nas obras de Loureiro são desenhadas de tal forma que o olho é impelido a segui-las longitudinalmente, da esquerda para a direita, de cima para baixo. Estes quatro desenhos de grafite repetem vertiginosamente estas linhas curvilíneas e instáveis que reverberam e destabilizam o olhar. José Loureiro liberta o seu gesto com os seus desenhos automatizados, cobrindo com concordância as suas pontuações visuais. Ele não procura fixar ou representar algo, mas sim agarrar uma energia. Esta energia linear determina a direcção, o ritmo do movimento, a força do movimento - acelerações, suavidade, peso, leveza, quebrantamento, continuidade, nitidez - pulsações que se relacionam e se libertam da folha de papel, ganhando dimensão e extensão à medida que ressoam simultaneamente a tensão interior.
Pedro Calapez (Lisboa, 1953) deriva através das convenções do desenho, nomeadamente as convenções do desenho paisagístico, actividade que tem ocupado a sua atenção, e que é novamente trazida para o palco central da sua obra. Enquanto que o pintor naturalista toma a paisagem como um todo, as partes da sua obra dispostas de modo a dar unidade e reconhecimento, traduzindo uma paisagem habitada por significados articulados e estáveis, Pedro Calapez opta por agir no sentido de eliminar qualquer expressão da realidade. Neste caso, Calapez selecciona fragmentos de imagens de linhas de água e de uma paisagem convencional e transforma-as em registos gráficos abstractos. Ambas as convenções, uma de relevo, aquela que evoca o género paisagem, são equalizadas pelo resultado gráfico final.
Os desenhos de Rui Toscano (Lisboa, 1970) com caneta de marcação permanente traduzem um exercício de observação que esvazia os lugares de identidade e o estado de detenção do artista pela arquitectura como um espaço intemporal e indeterminado. Estes desenhos adoptam e adaptam a linguagem da ilustração arquitectónica, optando frequentemente por representar ou 'projectar' detalhes e visões invulgares de acordo com esta linguagem. Enquanto a fotografia é a referência directa destas obras, estes desenhos orientam-nos para a realidade, eles são uma semblante do real. Relativamente à cidade, as palavras de Donatella Mazzoleni, citadas em 'A Cidade no Campo de Visão' (in Into the Image, Kevin Robins, ed. Routledge, 1996, 133), ressoam significativamente na visualização dos desenhos de Toscano: 'As metrópoles já não são 'lugares', porque as suas dimensões excedem de longe as dimensões do aparelho perceptivo dos seus habitantes'. A mais ampla abertura sensorial, a da luz, é estilhaçada. Foi o campo visual, em algum aspecto, que definiu a cidade dimensionalmente: na metrópole já não há pan-orama (a visão de todos), porque o seu corpo transborda para além do horizonte. Na estética metropolitana, o olho falha no seu papel de instrumento de controlo total à distância".
Por último, mas não menos importante, Joana Rosa (Lisboa, 1959) apresenta 'Scribble', um extenso desenho de grafite com anotações de pastel vermelho em velino que resulta do amplo registo de padrões densos, desenhados de forma turbulenta. Este rabisco é uma espécie de metáfora para o processo de pensamento e trabalho que é irrestrito, irrestrito, aberto e arbitrário, espalhando-se por toda a obra da artista. As palavras e declarações escritas nesta obra sublinham o sentimento de vertigem que engole a realidade e os prazeres da imaginação infantil, da narrativa, da ficção científica e do ballet. A dimensão do processo merece ser especialmente notada nesta obra, dada pelos traços deixados pelo artista e vestígios da vida familiar, uma referência subtil à maternidade e ao cordão umbilical, o limiar da vida.
Nancy Dantas