Cristina Guerra Contemporary Art apresenta, no próximo dia 12 de Abril, uma exposição individual de Lawrence Weiner, a terceira do artista Norte-Americano na galeria.
Nascido no Bronx, Nova Iorque, em 1942, Lawrence Weiner é considerado um dos artistas mais significativos do nosso tempo.
Desde dos anos sessenta que trabalha exclusivamente com a linguagem, colocando-a ao serviço da sua concepção da arte que centra a relação objectiva entre o ser humano e os objectos ou então aquela que existe entre uns objectos e outros. Na sua prática escultórica, Lawrence Weiner tem vindo a suster de forma consistente os postulados articuladas na sua ‘Declaração de Intenções’:
1 - O ARTISTA PODE CONSTRUIR A OBRA
2 - A OBRA PODERÁ SER FABRICADA
3 - A OBRA PODERÁ NÃO SER CONSTRUÍDA
(A DECISÃO SOBRE SUA CONDIÇÃO RESIDE COM O RECEPTOR NO ACTO DE RECEPÇÃO DESDE QUE A DECISÃO SEJA EQUIVALENTE & CONSISTENTE COM A INTENÇÃO DO ARTISTA).
Como já realçou em múltiplas ocasiões, a sua obra foi desenhada para ser traduzida, quer na sua forma física, quer em termos linguísticos. Para a exposição de Lisboa, Weiner irá inaugurar uma série de enunciados (statements) originalmente redigidas no inglês e posteriormente traduzidas para o português. Neste caso, os enunciados serão transmitidos sob a forma de uma aplicação em vinil, numa instalação que se articula com o espaço expositivo.
Na obra de Lawrence Weiner, a palavra ‘enunciado’ (statement) remete para o cabeçalho dos extractos de conta habitualmente enviados pelas instituições de crédito para verificação dos seus clientes. Essencialmente, o extracto funciona como um registo de despesas/actividades incorridas por conta do cliente. No caso da obra de Weiner, o artista não procura explorar única e exclusivamente a ideia de contabilidade que a palavra statement evoca no inglês, mas a noção de ‘resumo de conta’, a ideia do enunciado como uma condição necessária e suficiente; uma realidade empírica que não corresponde à expressão de uma intenção, nem a uma descrição ou prescrição. Uma análise mais atenta dos seus enunciados, tal como aquela que Birgit Pelzer desenvolve na revista October, assinala a sua construção de forma não avaliativa ou prescritiva. Como Pelzer indica no seu texto, apesar de Weiner incluir um ou vários verbos nos seus enunciados, estes não servem para fixar o seu conteúdo, ligando o sujeito a um predicado. “Um estado de coisas é registado sem estar preso a uma definição, a uma avaliação, a uma dedução causal, a um imperativo. Estamos na presença não de frases, mas de unidades distintas de sentido. A ausência de pontuação reforça ainda mais o carácter breve, incompleto e suspenso da sua redacção.”
Para a exposição, apresentada sobre o título O DADO ESTÁ LANÇADO, o artista desenhou uma instalação bilingue onde a palavra escrita se distende sobre as paredes e chão do espaço. Aqui, os enunciados parecem investigar materiais, processos, estados de conservação, numa espécie de alusão à passagem do tempo.
Ainda que a sua obra não trate de questões de linguagem, o acto quase omnipresente da tradução acarreta consigo uma certa problemática e reflexão, onde estas obras figuram como exemplo. Para o artista, a tradução traz consigo uma redução da universalidade das coisas, ou seja, na tradução, “a inexistência de expressões específicas requer a utilização do cinza numa matéria (a arte) que é muitas vezes pensada em termos estritos de preto no branco”, conforme alude numa das suas muitas entrevistas. A tradução também aporta a questão do duplo significado. “Quando traduzimos de um idioma para outro, o trabalho muda geralmente. Na verdade, o que acontece é que a obra é alterada especificamente. O espectador confronta-se com uma certa ambiguidade. O meu trabalho ocupa-se dessa incerteza ”.