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31

 

Março

 

2016
12

 

Maio

 

2016
João Paulo Feliciano - Primavera
João Paulo Feliciano - Primavera
João Paulo Feliciano - Primavera
João Paulo Feliciano - Primavera
João Paulo Feliciano - Primavera
João Paulo Feliciano - Primavera
João Paulo Feliciano - Primavera
João Paulo Feliciano - Primavera

João Paulo Feliciano (n. 1963) apresenta, na Galeria Cristina Guerra

Contemporary Art, um conjunto de trabalhos evocativo da sua relação

enquanto director artístico do recinto do festival NOS Primavera Sound, que

tem lugar no Parque da Cidade do Porto. Esta mostra chama-se

precisamente Primavera. Não surpreende o cruzamento das artes visuais,

com o design e com a música, já que Feliciano se assume como músico e

como artista visual. Aliás, no passado integrou projectos musicais,

como Tina and the Top Ten e No Noise Reduction, ou, mais recentemente, o

enérgico e contagiante Real Combo Lisbonense.


Ao longo do espaço da galeria, vão-nos sendo apresentadas peças que

testemunham esta relação. À entrada, de um lado, algumas imagens de

arvoredo, potencialmente evocativas do Parque da Cidade do Porto; de

outro, um amontoado de letras com encaixes de luzes, similares às que

recebem o público na sua chegada ao recinto musical. Convém dizer que

funcionam francamente bem neste contexto de espaço aberto, com a

elegante e fluida movimentação das luzes. Já no contexto de galeria, a sua

função operacional e o envolvimento estético alteram-se, como seria

expectável. A peça que mais se destaca na exposição em causa é uma mesa,

com tampo de vidro e com luzes amontoadas no interior. Recorda as

“acumulações” de Arman, genericamente ligadas ao movimento do nouveau

réalisme, que justamente se ancorou na proposta de “novas abordagens

perceptivas do real”.


Detenhamo-nos nesta ideia. Em Primavera faz-se alusão a um espaço

exterior e extenso que é, a seu modo, e mais ou menos conceptualmente,

transposto para um espaço de galeria, naturalmente fechado e circunscrito.

Pode não ser tarefa fácil. E evidentemente que levanta problemáticas de

funcionamento ao nível de contexto, de escala, e até mesmo do desejo e do

potencial encantamento pelo próprio objecto. Nos últimos tempos, temos

observado esta prática por diversas vezes e com vários artistas: a colocação

na galeria de peças/objectos originalmente concebidos para o exterior e com

outra intenção de fruição e de escala. Trata-se, contudo, de uma opção

artisticamente legítima e objectualmente válida apesar de, eventualmente,

menos encantatória. Talvez, por outro lado, não tenha que o ser. Uma outra

interpretação deste movimento – de fora para dentro, chamemos-lhe –

poderá ter que ver justamente com o desmaterializar do objecto inicial,

propondo uma nova “abordagem perceptiva” – recordando as palavras de

Pierre Restany e dos seus companheiros – do real.


No elucidativo texto de Simón Marchán-Fiz (Del arte objetual al arte de

concepto, 1990), a questão da superação da obra de arte enquanto objecto

estético tradicional pode entender-se justamente como «(...)

uma desestetização do estético, entendida como esta apropriação de

realidades não artísticas tão característica desde a experiência de M.

Duchamp. Trata-se de uma recuperação teórica e prática de aspectos extraartísticos,

incluindo os aspectos antropológicos e sociológicos». Este ponto

importa-nos. A exposição de João Paulo Feliciano ganha corpo

precisamente e, também, porque não se trata apenas de objectos isolados,

mas de pedaços de um trabalho operativo mais vasto e que possui uma

componente importante: é concebido para criar ambientes para fruição das

pessoas que se deslocam ao Primavera musical. Um outro exemplo desta

legítima “desestetização” foi encontrado por Harold Rosenberg, quando

entendeu (1972) que a “arte desestetizada” seria o mais recente dos

movimentos de vanguarda, nomeadamente patente nas obras de Barry

Flanagan, Bruce Nauman, Carl André, Denis Oppenheim, Walter de Maria,

entre outros.


As peças apresentadas por João Paulo Feliciano na galeria não são objectos

esteticamente pouco apelativos, esclareçamos, contudo, e como deixámos

antever atrás, o seu impacte visual não é – nem seria suposto, certamente,

ser – o mesmo que as letras, por exemplo, conseguem no festival de música

do Porto. O caso da mesa é particular. Por isso esta mesa nos chamou a

atenção, porque funciona ao contrário: no festival ficaria perdida; aqui é um

objecto encantador e poderoso. E voltamos à ideia de percepção e ao jogo

complexo que ela acarreta, com variáveis, conceitos, predisposições, filões e

níveis diversos de entendimento e de interpretação. O que é francamente

estimulante. Baralhar e voltar a dar é importante em arte. É uma forma de a

manter viva e orgânica. Os trabalhos de Feliciano conseguem-no,

especialmente na relação que propõem com um contexto operativo mais

vasto.



Isabel Nogueira



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