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Julião Sarmento 2008
Julião Sarmento 2008
Julião Sarmento 2008
Julião Sarmento 2008
Julião Sarmento 2008

A tensão é um elemento constante no imaginário de Julião Sarmento, um estado quase latente e continuado de captura e desassossego. Na sua segunda exposição na galeria Cristina Guerra Contemporary Art, o artista irá mostrar um conjunto de trabalhos inéditos, a técnica mista sobre tela, e uma escultura onde uma certa erótica do adiamento (usado, aqui, na acepção da palavra inglesa delay) é diversamente explorada.


Quanto a esta última frase, esta ideia de adiamento é contrária ao consumo e uso e existe, portanto, numa relação antitética à satisfação e gratificação. A tensão de que falamos é impulsionada por uma contenção, por um suster da pulsão escópica que nos rege como espectadores. Perante estes trabalhos, o nosso olhar é detido pela não imagem. Contrariados, somos obrigados a uma visão háptica: os nossos olhos, os nossos órgãos visuais, tacteiam, exploram, rastreiam a superfície.


Passemos, então, a explicitar melhor o primeiro gesto de adiamento associado a estas obras: a suspensão da figura e consequente frustração das expectativas do espectador. Aqui, o artista opta por interromper a sua actividade de produção de imagens, de devolução de um repertório de ícones que quase todos nós acabamos por identificar e esperar da sua obra. Nenhum dos trabalhos sobre tela na galeria (no primeiro andar, entenda-se) apresenta uma imagem, uma figura, uma sombra, uma representação que permite a distracção e o entretenimento do nosso olhar. Pelo contrário. Ao entrar na galeria, observamos uma retracção da figuração: jorros, esquiços acinzentados com manchas de cor sobre fundos esbranquiçados, onde é quase impossível a fixação do olhar. O segundo adiamento ou interrupção refere-se ao medium e à manualidade. Estes jorros informes são serigrafados sobre a tela em vez de pintados, um pouco na tradição duchampiana do celibatário que há muito deixou de produzir o seu próprio chocolate. Nestas obras, Sarmento aparenta libertar a mão das suas obrigações, optando por relevar uma técnica intrinsecamente reprodutível, a serigrafia. Também recupera o último modelo de acção heróica individual – a abstracção – através de uma imagem que ele próprio considera hiperreal. Ou seja, é hiperreal pelo seu processo de criação. Sarmento recupera a valoração pollockiana do chão no sentido em que estas obras partem dessa horizontalidade; partem de pequenas folhas de papel que o artista friccionou contra o piso irregular e sujo do seu atelier. Depois, ele amplia a mancha e os borrões deixados por esta acção para as suas telas, serigrafando-as cuidadosamente, ponto por ponto, detalhe a detalhe, sobre a sua superfície (através de um processo também ele horizontal). O que isto quer dizer é que apesar de suspensas sobre a parede da galeria, apresentadas na vertical, estes trabalhos retêm uma memória da sua origem – o chão – aquilo que Pollock via como o infra-cultural, exterior ao eixo do corpo, e inferior à forma: o eixo horizontal. Sarmento, depois deste processo, assenta diversos excertos de textos que pesam ainda mais sobre estas obras, dando origem aos seus diversos títulos.


Quanto à escultura, o adiamento como paralização de um movimento, de um acto, do reflexo do sujeito no processo identitário atravessa este palco.

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