A Dupla Transparência é uma estrutura livre de 12 molduras de madeira envergadas com tecido estampado transparente para formar um recinto semelhante a uma sala. Três elementos escultóricos são intercalados ao longo de toda a instalação.

As estampas em tecido são delicadas, como reflexos fugazes em vidro. Mas aqui não há vidro e estas são re-flexões estampadas.

A transparência da obra conota a arquitectura de alta tecnologia e a medialidade, mas também, figurativamente falando, o acto de ver através: a sobreposição generalizada de imagens e informações que já não podem ser vistas independentemente umas das outras.

As molduras e as peças construídas de materiais simples (madeira, tecido, gesso) formam uma contrapartida analógica, táctil e tecnicamente simples a estas camadas veladas.

As superfícies rugosas de estuque dos elementos escultóricos sugerem fachadas exteriores, mas também paredes interiores, uma inversão que vira o espaço do avesso. O foco aqui é materialidade vs. imaterialidade, confronto táctil vs. expansividade. Também aludem aos escombros dispersos do modernismo arquitectónico.

As cenas de rua e os interiores recordam espaços familiares da história da arte: as naturezas mortas e os interiores armazenados nos arquivos pictóricos da mente. Mas os cenários são retirados de lugares pouco notáveis na periferia das atenções, tais como lotes abandonados e locais de construção. As fotografias diferem muito em escala, mostrando detalhes ampliados e reduções escolhidas a partir dos arquivos do artista. Alternam ao acaso: algumas são obras acabadas, outras notas para futuras composições.

Hoje, o tema da transparência é discutido nos meios de comunicação social como se se aplicasse ao espaço físico. Com a riqueza de imagens concorrentes em simultâneo e uma sobrecarga de informação, as antigas hierarquias predominantes na selectividade foram subvertidas.

A consequente luta pela orientação espacial é aqui ecoada nas perspectivas e pontos de vista em mudança.

Em obras anteriores Sabine Hornig referiu-se à metafísica da memória, como no romance de Nabakov Coisas Transparentes, em que o objecto é visto até à sua origem no tempo. Com a sobreposição de camadas transparentes em diferentes perspectivas, o espectador

é literalmente tecida em modos alternados de passado e presente num espaço elusivo e flutuante, um continuum espaço-temporal.

¹ Double Transparency é a mais recente instalação de Sabine Hornig e foi originalmente criada para Sensory Spaces, uma série de exposições individuais no Museum Boijmans Van Beuningen em Roterdão (2013-2014), com curadoria de Saskia van Kampen-Prein.

O seu trabalho tem sido exposto em instituições como por exemplo: J. Paul Getty Museum em Los Angeles, (2013), Pinakothek der Moderne em Munique (2011-2012), K20 Kunstsammlung Nordrhein-Westfalen em Düsseldorf (2012), Hamburger Kunsthalle (2012), Berlinische Galerie, (2006), Centro Cultural de Belém, Lisboa (2005), Museum of Modern Art em N.Y. (2003), Nationalgalerie Berlin e Kestner- Gesellschaft Hannover (2007).

Sabine Hornig está representada em numerosas colecções: O Museu Solomon R. Guggenheim em Nova Iorque, o Museu Hirshhorn e o Jardim de Esculturas em Washington D.C., The Pinakothek der Moderne em Munique, The Museum of Modern Art in N.Y., Bundeskunstsammlung, Deutsche Bundesbank Berlin, Los Angeles County Museum of Art, Banco Espírito Santo, Lisboa.